I love Miami !

Morar nos Estados Unidos ainda é o sonho de muita gente, seja pelas oportunidades profissionais que existem no país ou simplesmente para aprender o inglês. No entanto, muitas vezes este sonho vem acompanhado de dúvidas e ansiedades: qual é a melhor cidade pra viver nos EUA? Será que eu vou me adaptar? E a saudade do meu pãozinho de queijo, do meu solzinho tropical, da família, dos amigos? É sempre um desafio deixar os hábitos que cultivamos durante anos e partir para o desconhecido. Recomeçar do zero, estrangeira num país onde tudo é diferente, cultura, ritmos, relações humanas, relações de trabalho, economia...

O primeiro passo é conseguir o visto, verdadeira via crucis. Depois do 11 de Setembro, então, nem se fala. Muito complicado, complicadíssimo. Mas não impossível. Tem que marcar a tal entrevista no consulado americano. Necessário agir com grande antecedência, procure no site www.brasilia.usemabssy.gov . Uma simples entrevista, com um burocrata quase sempre entediado, desconfiado, preconceituoso e pouco cortês, pode demorar de dois a três meses para ser marcada. Boa sorte! Se você conseguir passar pela peneira fina, visto na mão e pé no avião!

Minha decisão de ir para os EUA me custou meses de dúvidas e reflexões, antes de tomar coragem e ir para estudar. Primeira providencia, escolher uma cidade. Pensei em três opções: Los angeles? Muito longe do Brasil. New York? Adoro! Mas é muito frio, brrrrr...Que tal Miami? Perto do Brasil, sol o tempo todo, praia , muita gente latina (ajuda a driblar a saudade). É, Miami poderia ser uma boa.

Mas como sou apaixonada por arte, me perguntei: e a vida cultural? Porque quando pensava em Miami só me vinham á cabeça frivolidades como shoppings, templos de consumo, restaurantes, vida noturna. Nada de cultura.

Deixei o preconceito de lado e resolvi pesquisar na internet . E neste aspecto de vida cultural, , Miami me surpreendeu positivamente. São mais de 200 galerias de arte, museus e diversos espaços para shows e concertos. Como o novissimo Carnival Center for the performing arts http//www.miamipac.org que oferece uma extensa programação de espetáculos, exposições e shows. Além disto, a cidade tem um calendário fixo de eventos de arte - como o Artbasel http://www.artbasel.com que acontece de 7 a 10 de dez e a 17th Feira de arte Moderna e Contemporânea www.art-miami.com que acontecerá de 5 a 8 de janeiro.

Agora, a vida nos EUA nao é brincadeira não. É tudo muito corrido, o tempo parece mais curto. Quem vai pra Miami achando que vai ter moleza, vai se dar mal. Porque além de estudar e trabalhar, nos Estados Unidos todo mundo tem que lavar, passar, cozinhar e limpar a casa. Se virar nos trinta! Como se diz no Brasil, bater o córner e cabecear pra dentro do gol! Se tem uma coisa na America é serviço, oitenta dolares por uma faxina. Empregada é artigo de luxo, cada um faz sua cama, arruma o quarto, lava a a própria roupa ( com ajuda das máquinas, graças a Deus). A louça, metade vai pra maquina, mas sempre tem uma panelinha ou outra que a gente tem que lavar na mão mesmo. Então, é botar uma música pra tocar, respirar fundo, vestir umas luvas de borracha pra não estragar a pele e as unhas, e mãos á obra! Bem vinda a America.

Apesar das múltiplas tarefas e diferença cultural me adaptei muito rápido à nova cidade. Miami é mais latina que americana. Por exemplo: em frente da minha casa vive um cubano, ao lado um venezuelano e atrás um colombiano. Aqui na Flórida, nós latinos somos maioria e a comunidade brasileira é grande ( quase 80 mil ) e bem acolhedora. Os amigos brasileiros foram muito importantes na hora da mudança, pois me deram muitas dicas e calor humano, claro! Além disto, tomei algumas providências para amenizar a saudade do Brasil.Logo que cheguei a primeira coisa que fiz foi assinar o canal da Globo,que passa toda a programação do Brasil com horários engraçados. Para voces terem uma idéia, o Jornal Nacional passa antes da novela das sete. No começo estranhei, agora acho graça .Depois fui conhecer o supermercado brasileiro que se chama Carnaval, onde encontrei pão de queijo, guaraná, Nescau, brigadeiro e tudo de delicioso que existe no nosso país. Tem até feijoada feita por uma cozinheira mineira aos sábados.Uma delicia!

Deixando a saudade de lado, viver em Miami é muito tranqüilo e funcional. Os índices de violência são baixíssimos e a polícia é muito confiável. Um vez, eu estava voltando para casa de noite, sozinha no carro. De repente, olho pelo retrovisor e vejo um carro de polícia com a sirene ligada atrás do meu carro. Minhas pernas tremeram, mas como não havia nada de errado e eu estava dirigindo na velocidade permitida, acelerei, pois pensei que estivesse atrapalhando a passagem dele. Cem metros depois resolvi parar e o policial falou comigo de dentro do carro por um megafone. Fiquei nervosíssima,me senti em um filme do Scorcese. Respirei fundo, ele veio em direção ao meu carro,esperei com as mãos no volante ( este é o procedimento correto). Ele se aproximou e pediu meus documentos.Entregui prontamente. Logo depois, ele educadamente me informou que havia me parado porque meu carro estava com a luz do freio quebrada e que eu estava correndo risco.Quando ele soube que eu era brasileira, foi muito simpático e disse : Pelé, Ronaldinho!? Sorri pra ele, ainda meio nervosa, com medo de levar uma multa. No entanto, ele me falou que não havia motivo para me multar e que eu poderia seguir, mas se amanhã eu fosse parada pelo mesmo motivo, além de pagar uma multa de US 500 o carro seria apreendido. Agradeci aliviada e voltei pra casa tranquila, pois em nenhum momento senti abuso de poder ou qualquer medo de extorsão. Percebi que havia alí um cuidado com a minha segurança e com a segurança dos outros cidadãos. Foi uma experiência muito positiva. Por tudo isto, me arrisco a dizer que Miami é a “América” Latina organizada.Aqui encontra-se calor humano brasileiro com excelência americana que aliadas a diversidade cultural fazem deste lugar um território neutro, porque aqui todo mundo, no fundo no fundo, é estrangeiro.